Os japoneses ainda discutem o que fazer com as ruínas do tsunami que devastou o litoral norte do país em 2011, mas já sabem o que acontecerá com o solo contaminado com radiação obtido a partir da limpeza da área. Fukushima tomou uma decisão que fica no meio termo entre preservar a memória do que aconteceu e recuperar a funcionalidade das cidades atingidas. O distrito planeja reciclar a terra contaminada com a justificativa de que a oposição ao projeto seria muito maior caso ela fosse levada para outros locais.

Ainda não se sabe a quantidade de solo que será usada para esse fim, uma vez que o governo é obrigado a descartar materiais com mais de 8 mil becquereis de radioatividade por quilo. É estimado, no entanto, que 22 milhões de metros cúbicos de solo contaminado sejam retirados.
A ideia é usar a terra contaminada para elevar o solo em construções de estradas, paredões de contenção marítima, ferrovias e outras obras públicas. O material radioativo será coberto por solo “limpo”, concreto, asfalto e outros materiais para minimizar a exposição à radiação a que estarão sujeitos os trabalhadores e moradores dos arredores.
A ideia parece boa, mas a utilização de material radioativo em construções ainda é uma prática sem precedentes e não se sabe ao certo quais os riscos envolvidos. Os japoneses têm traumas justificados de qualquer coisa ligada a radioatividade, pois foram vítimas dos únicos ataques nucleares da história. Um sentimento que até ajudou a criar um dos grandes ícones mundiais do país, o monstro Godzilla, mas também motivou a população a acreditar que o governo escondia informações sobre os riscos reais após o acidente de Fukushima. Por isso, é compreensível que também vejam com desconfiança a ideia de trafegarem sobre estradas construídas em cima de terra contaminada.
O solo será armazenado em um depósito próximo a área afetada em Fukushima. Se ele não for utilizado e permanecer lá por mais de 30 anos, a lei obriga que o material seja descartado fora do distrito.