De autoria do arquiteto Matheus Marques Rodrigues Alves, coautoria de Ricardo Felipe Gonçalves e Marcus Rosa e consultoria de Tássia Helena Teixeira Marques, projeto ampliou a discussão do que é o sustentável
Por PiniWeb
Luísa Cortés, do Portal PINIweb
9/Março/2016
A Prefeitura de Campinas, em São Paulo, e o Departamento de São Paulo do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SP) divulgaram na última quarta-feira (8) o resultado do concurso público nacional de arquitetura para o projeto da Casa da Sustentabilidade, idealizado pela Secretaria do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. A proposta ganhadora é de São Paulo, de autoria do arquiteto Matheus Marques Rodrigues Alves, coautoria de Ricardo Felipe Gonçalves e Marcus Rosa e consultoria de Tássia Helena Teixeira Marques.
O projeto destaca, como premissa, a busca pela tradução do significado social e ambiental na forma construída, demandando uma abordagem sensível e humana. O foco, segundo os arquitetos, é nas experiências do usuário, em algo que ele possa sentir e vivenciar e, por consequência, repensar a sua relação com o ambiente.
O projeto
O espaço é organizado em um pavilhão que concentra as atividades programáticas exigidas e a cobertura, onde é possível passear na altura da copa das árvores, e culmina em um mirante elevado que permite admirar a paisagem do Parque Taquaral.
As exigências programáticas foram divididas em três blocos: Eventos, Reuniões e Condema. Eles encontram-se dispostos de forma linear de acordo com a restrição de acesso de cada um. A parte de serviços e instalação sanitária concentra-se em dois anexos que fazem parte da praça de soluções sustentáveis.
Quanto à disposição do solo, optou-se por elevar de forma sutil o pavilhão, de forma que o seu eixo longitudinal acompanhe o leve declive do terreno, sem tocá-lo. Na porção frontal do projeto há um duplo gesto de inflexão: a cobertura se eleva em direção ao mirante e o piso se declina para acompanhar o desnível natural e acomodar o auditório, culminando no grande alpendre de acesso e exposições.
O edifício também tem a capacidade de captar 1,8 milhões de litros de água pluvial por ano, além de gerar 26,5 mil KWh anualmente. Isso gera 498 toneladas de CO² a menos na pegada de carbono.
A disposição linear dos ambientes contribui para uma ventilação natural mais eficiente, pois proporciona a possibilidade de aberturas operáveis em ambos os lados de cada bloco, e, assim, um cenário ideal para a ventilação cruzada, ainda mais pela diferença de temperatura entre as fachadas.
Tais fachadas foram feitas com fechamentos translúcidos aliados a mecanismos de proteção solar, o que garante o aproveitamento da iluminação solar sem comprometer a viabilidade térmica do ambiente interno. Os dois pátios do espaço auxiliam a distribuição dessa iluminação.
O projeto ainda prevê a utilização de grandes beirais a alpendres perimetrais, provedores da sombra que aumenta a percentagem anual de horas em conforto térmico de seus usuários.
As amplas áreas de cobertura da tipologia proposta atuam como coletores de águas pluviais, que são armazenadas primeiro em espelho d’água técnico, filtradas e estocadas em cisternas aparentes. Essa água pode ser utilizada na irrigação de jardins, na umidificação das correntes de ar, limpeza ou, ainda, para a descarga de vasos sanitários através de sistemas de redistribuição.
A água utilizada pelos vasos sanitários pode, ainda, passar por um processo de filtragem anaeróbica, redutora da demanda exercida sobre o sistema urbano de coleta de esgoto e gera biogás, que pode ser utilizado como forma de energia.
Para o projeto de esgoto sanitário, entretanto, foi escolhido um sistema chamado de “zona de raízes”, no qual é feita a decantação e digestão anaeróbica dos dejetos, que, então, são encaminhados a essa zona, formada por áreas saturadas de água com vegetação adaptada a esta condição. Ali, a matéria orgânica será digerida em conjunto com micro-organismos aeróbicos na zona das raízes das plantas.
A proposta também compreende o suprimento de 40% a 50% da demanda energética do edifício, valor que pode ser estendido a 100% com a aplicação de placas fotovoltaicas na cobertura.
Sistema construtivo
A estrutura é essencialmente metálica, devido à sua racionalidade, leveza, e montagem rápida e limpa, evitando resíduos de obras ambientalmente nocivos. Ela é modulada considerando-se as dimensões de 1,25 m x 1,25 m, o que garante um melhor aproveitamento e menor desperdício das peças estruturais e dos materiais de vedação e revestimento.
O partido estrutural do pavilhão é composto por pórticos metálicos que vencem transversalmente vãos de 12,5 m, e espaçados em vãos de 6,25 m. Para interligar e travar a estrutura, elementos diagonais são posicionados entre os pilares, o que configura um sistema leve e unificado.
Todo o edifício é sutilmente elevado no solo, o que contribui para uma abordagem menos agressiva e respeitosa ao terreno. Os pilares metálicos apoiam-se em pequenas bases cilíndricas de concreto que tocam o solo, de forma a minimizar as possíveis interferências e a garantir uma maior clareza na distinção entre a base e a malha estrutural elevada.
As lajes são alveolares pré-moldadas, o que evita a utilização de fôrmas e escoras, e gera menos resíduos.
As instalações sanitárias e hidráulicas estão condensadas em dois anexos externos, de modo a visar a uma maior racionalidade construtiva e autonomia para o pavilhão principal.
Ata do concurso
Durante a escolha do projeto vencedor do concurso, os membros da comissão julgadora Cezar Capacle, João Batista Giacomello Siqueira, João Manuel Verde dos Santos, Newton Massafumi Yamato e Rodrigo Mindlin Loeb divulgaram, na ata do concurso, comentários sobre os finalistas, e, em especial, sobre projeto vencedor.
Segundo eles, a “delicadeza e a elegância com que o edifício pousa sobre o terreno revela a postura de profundo respeito pelo entorno adotada no partido. A racionalidade construtiva e de organização espacial é legível em todos os seus elementos. A distribuição do programa é generosa e democrática: todos os pontos do programa receberam a mesma atenção cuidadosa e tanto usuários ocasionais da Casa como seus funcionários fixos poderão desfrutar das amenidades que o prédio oferece”.
Ainda destacaram que a proposta resolve com excelência os principais desafios colocados pelo concurso. “O projeto promoveu mesmo uma ampliação da discussão do que é uma construção sustentável. Para além de sua materialidade, o ideal de inclusão, de respeito, de fluidez e de contemplação se incorporam em uma solução coesa, simbólica sem ser monumental, marcante sem ser caricata”.
Sobre o projeto de sustentabilidade, “uma edificação que se pretende sustentável desde o momento em que o primeiro traço pousou sobre o papel até o momento em que o primeiro cidadão adentrar e contemplar os seus espaços construídos”, afirmaram.
Por fim, “trata-se de um projeto que resgata a dimensão humana em seu papel original: não colocando o homem como elemento dominador, que dobra, molda e subjuga a natureza à sua vontade, mas como mais um elemento que se integra em harmonia com o ambiente em que está inserido - e isso, sim, é uma construção sustentável”, elogiou a comissão julgadora.
Outros vencedores
Em segundo lugar no concurso, o projeto 131 de autoria de Luís Mauro Freire e coautoria de Henrique Fina, Marcelo Luís Ursini, Maria do Carmo Vilariño e Jonathas Magalhães da Silva. Em terceiro lugar, o projeto 59, de autoria de Tais Cristina da Silva, Cassio Oba Osanai, Gabriel Cesar e Santos e Paulo Roberto dos Santos.
Além de contar com três vencedores, o concurso distribuiu cinco menções honrosas e sete destaques:
MENÇÃO HONROSA – PROJETO: 41
Autor: Renato Dal Pian
Coautora: Lilian Dal PIan
Colaboradores: Carolina Tobias e Luis Taboada
Consultor: Ernani Peruzzo
São Paulo – SP
MENÇÃO HONROSA – PROJETO: 84
Autor: Rafael Gazale Brych.
Coautores: Alexandre Hepner e João Paulo Payar.
Colaboradores: Felippe Duca e Pedro Barretto Veiga.
Consultores: Eleazar Hepner.
São Paulo – SP
MENÇÃO HONROSA – PROJETO: 100
Autor: Arthur Eduardo Becker Lins.
Coautores: Caique Schatzmann, Eduardo Leite Souza, Felipe Cemin Finger, Gustavo Prado Fontes e Vitor Sadowski.
Colaborador: David Sadoeski.
Consultor: Rovy Pessoa Ferreira.
Florianópolis – SC
MENÇÃO HONROSA – PROJETO: 138
Autor: Pedro Ivo Cordeiro Freire.
Coautor: Simon Le Rouic.
Colaboradores: Camille Reis e Marina P. Smit.
Consultores: Tien-Hung Hwang – Moz Paysage.
São Paulo – SP
MENÇÃO HONROSA – PROJETO: 221
Autor: Nonato Veloso.
Coautores: Luciana Saboia, Bruno Campos e Cláudia Amorim.
Colaboradores: Hugo Aragão e Mateus Reis.
Consultores: Anna Albano, Sahra Lemos, Ricardo Trevisan, Paula Farage, Veridiana Goulart e João Walter.
Brasília – DF
DESTAQUE – PROJETO: 49
Autor: Lucas Fehr
Coautor: Guilherme Lemke Motta
Consultores: Karyn Rodrigues, Bruno Scalet, Gabriele do Rosario, Dyego Digiandomenico e Henrique Fischer.
Equipe: Alice Torres, Bruna Aoki, Pedro Pasquali e Pedro Lindenberg.
São Paulo – SP
DESTAQUE – PROJETO: 79
Autor: Maria Cristina Motta, João Rangel Crissiuma e Luis Eduardo Loiola.
Colaboradora: Gabriela Lira Dal Secco.
Consultores: Marco Passarelli, Ricardo Cardim, Camila Schmidt, Virginia Dias Azevedo Sodré, Alvaro Diogo Sobral Teixeira e Alan Dias.
São Paulo – SP
DESTAQUE – PROJETO: 81
Autores: Leonardo Shieh, Jörg Spangenberg, Leandro Ishioka, Ricardo Cubellas Azevedo e Shieh Shueh Yau.
Colaboradora: Priscila Dianese.
São Paulo – SP
DESTAQUE – PROJETO: 92
Autor: Vinicius Miranda de Figueiredo.
Coautores: Vitor de Luca Zanatta, Henrique Wosiak Zulian e Talita Anelize Broering.
Colaboradora: Lucy Henriques Lobato.
Consultor: Ricardo Valente Neto.
São Paulo – SP
DESTAQUE – PROJETO: 189
Autor: Gustavo Araújo Penna.
Coautores: Laura Resende Penna de Castro, Norberto Bambozzi da Silveira e Oded Stahl.
Colaboradores: Bárbara Novais, Ivan Rimsa e Raquel Resende.
Equipe: Alice Flores, Eduardo Magalhães, Fernanda Tolentino, Gabriel Barbosa, Henrique Neves, Jordana Faria, Julia Salgado, Letícia Carneiro, Naiara Costa, Patrícia Gonçalves, Paula Sallum, Raquel Moura e Sarah Fernandes.
Belo Horizonte – MG
DESTAQUE – PROJETO: 204
Autor: Franthesco Spautz.
Coautores: Jorge R. P Dombrowski, Paola Maia Fagundes e Taiane Chala Beduschi.
Colaborador: Eduardo de Araújo Fraga.
Consultor: Flávio Escobar Nogueira da Gama.
Porto Alegre – RS
DESTAQUE – PROJETO: 231
Autor: Glauco Assumpção Pachalski.
Coautor: Rodrigo Spinelli e Luciana Schnorr.
Consultores: Rafael Mascolo e Hilton Fagundes.
Equipe: Bruno Cavalleri e Ândrio Vicari.
Porto Alegre – RS